“Justiça social fortalece o país, a economia e o desenvolvimento”, diz Haddad sobre novas medidas econômicas
Ministro da Fazenda e outros ministros participaram nesta quinta-feira, 28 de novembro, de entrevista coletiva para detalhar novas medidas econômicas propostas pelo Executivo e que serão apreciadas pelo Congresso Nacional
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Os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Paulo Pimenta (Comunicação) participaram, nesta quinta-feira, 28 de novembro, de entrevista coletiva para detalhar os principais pontos das medidas econômicas referentes às regras fiscais propostas pelo Governo Federal e que serão apreciadas pelo Congresso Nacional em 2025.
Entre
os principais temas abordados estavam as novas regras para o reajuste
do salário mínimo, mudanças nos sistemas atualmente vigentes
referentes aos militares, e um novo sistema de tributação para
aqueles com renda mensal acima de R$ 50 mil.
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Apresentação feita pelo ministro Fernando Haddad
“Nós
estamos entre os dez países mais desiguais do mundo ainda. Nós
temos orgulho de estar entre as dez maiores economias do mundo, porém
não temos a vergonha de estar entre os dez países mais desiguais do
mundo ainda. Eu desconheço um governo que em dois anos tenha
combatido tanto privilégio quanto esse. Nós enfrentamos muitos
desafios. Vou lembrar aqui dos fundos fechados, dos super-ricos, dos
fundos em paraíso fiscal. Ou seja: esse governo não está nem um
pouco indisposto a enfrentar esse tipo de injustiça”, ressaltou
Fernando Haddad.
“Isso
aqui (as medidas anunciadas) vai ao encontro do que nós vamos fazer
em termos de justiça social, também. Que é um elemento importante,
que o mercado deveria considerar também. Justiça social é uma
coisa que fortalece o país, fortalece a economia, fortalece o
desenvolvimento”, prosseguiu o ministro da Fazenda.
Acompanhe
os principais pontos da entrevista coletiva:
SALÁRIO
MÍNIMO – (Fernando Haddad) O
salário mínimo continuará tendo ganho real. Ele continua tendo um
ganho acima da inflação. Mas esse ganho vai estar condicionado
àquele espaço do arcabouço fiscal entre 0,6% e 2,5%. Isso
significa que o salário mínimo pode, inclusive, subir numa
recessão, por exemplo. Se amanhã, daqui cinco, dez anos, você tem
um ano em que o produto (PIB) cai, você vai ter uma trava de que ele
(o salário mínimo) vai subir 0,6%. Ao mesmo tempo, se você tiver
um aumento do PIB muito grande um ano, você vai limitar o
crescimento do salário mínimo. Colocar entre 0,6% e 2,5% o
crescimento do salário mínimo ano por ano, dando conforto para o
planejamento elaborar a peça orçamentária com mais previsibilidade
e com a possibilidade de manter as despesas discricionárias, no
mínimo no patamar atual ou com boa gestão, ampliando a capacidade
discricionária do Estado para investimentos. Do meu ponto de vista,
para nós reencontrarmos o equilíbrio fiscal e podermos fazer o país
crescer como ele vem crescendo, com sustentabilidade.
MILITARES
– (Fernando Haddad) Nós
fizemos um acordo com as Forças Armadas para que também dessem uma
cota de contribuição importante e nós concordamos em acabar com a
morte ficta*, que é uma coisa que do ponto de vista da moralidade
pública é importante reconhecermos como um resquício do passado
que precisa ser superado. Extingue a transferência de pensão, que
era uma coisa que também só dizia respeito a essa carreira, e
estabelece finalmente uma idade mínima de passagem para a reserva
para os militares no plano federal, e fixa pelo teto de 3,5% da
remuneração a contribuição do militar para o Fundo de Saúde, que
era uma coisa também que estava desordenada entre as forças e isso
passa a fazer parte do acordo que foi feito com a defesa. Creio que o
impacto estimado é de R$ 2 bilhões por ano, no caso dos militares.
Se você considerar a despesa discricionária que eles têm, é um
gesto significativo. E foram coisas que nunca foram conseguidas pelos
governos anteriores. Reforça o apelo que nós estamos fazendo para
todos os poderes e para todos os ministérios de se engajar nesse
desafio que é reequilibrar as contas públicas. *
O benefício da morte ficta determina que quando um militar é
condenado por um crime ou expulso do serviço, para fins de pensão,
como se ele tivesse morrido. Ou seja, sua família tem direito de
receber 100% da pensão.
SUPER
SALÁRIOS – (Fernando Haddad) Pessoas
que hoje têm renda e não pagam imposto, uma renda superior a R$ 50
mil por mês, ou seja, R$ 600 mil por ano, vão passar a pagar o
mínimo. O que significa isso? Vamos supor que uma pessoa tenha
aluguéis, tenha salário, tenha dividendos, tenha juros, ela vai
somar o que ela recebeu, qual foi a sua receita, e vai calcular 10%
desse valor que ela recebeu. Todas as rubricas aí. Vamos supor que
ela tenha uma renda anual de R$ 600 mil. Ela vai fazer a conta do
seguinte: paguei R$ 60 mil de Imposto de Renda? Não. Eu paguei R$ 35
mil de Imposto de Renda. Eu vou ter que recolher R$ 25 mil para
completar os R$ 60 mil. O mesmo vale para a pessoa que ganha R$ 1
milhão. Agora, suponha que ela ganha R$ 600 mil e ela pagou R$ 80
mil de Imposto de Renda. Ela não é atingida pela medida. Ou seja:
nós estamos fazendo um conceito novo de Imposto de Renda mínimo,
considerado toda a renda da pessoa, e considerado tudo que ela pagou
de Imposto de Renda naquele exercício.
GASTO COM SAÚDE NO IR – (Fernando Haddad) Tem algumas distorções que nós estamos corrigindo em relação à saúde. Os gastos com saúde vão continuar dedutíveis na sua integralidade. Mas a isenção de Imposto de Renda por razões de saúde vai estar limitada a quem ganha até R$ 20 mil por mês. Para além disso, a pessoa continuará deduzindo 100% dos gastos de saúde, mas não fica isenta 100% de Imposto de Renda. Essas duas medidas conjugadas garantem os R$ 35 bilhões que compensam o aumento na faixa de isenção (para quem ganha até R$ 5 mil).
BENEFÍCIO
DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC) – (Fernando Haddad) Nós
temos conversado sobre uma espécie de indústria de liminares que
estão sendo concedidas e estamos estabelecendo critérios legais que
dão ao gestor público mais conforto na certeza de que o benefício
vai chegar a quem realmente precisa e é contemplado pela segurança
constitucional. Nós estamos adequando o BPC. Nós estamos herdando
alguns problemas que são de conhecimento público, benefícios sendo
concedidos sem clareza atestada, um atestado sem perícia, por
exemplo, sem laudo pericial. Uma série de problemas vem acontecendo,
razão pela qual o BPC extrapolou o orçamento deste ano em
praticamente 7 bilhões de reais. Nós vamos conformar o programa ao
texto constitucional. Não há mudança de conceito. Há apenas uma
clareza daquilo que nós precisamos fazer para que o programa tenha o
seu andamento sob condições de previsibilidade e de atenção
àqueles que são protegidos pelo texto constitucional.
(Rui
Costa) Só
no BPC nós tínhamos 500 mil pessoas que não estavam cadastradas e
foram incluídos no governo passado no programa. Nós estamos
chamando todos até dezembro agora para se cadastrarem e os valores
serão bloqueados se não comparecerem para o cadastramento. Ou seja,
garante-se o direito de quem tem legalmente o benefício e
eventualmente exclui-se aqueles que de uma forma ou de outra, por
qualquer razão judicial ou administrativa, foram incluídos de forma
indevida do benefício sem terem o respaldo legal para isso. Dos 3
milhões de beneficiários do BPC, 1 milhão não tem a CID
(Classificação Internacional de Doenças) no sistema. Ou seja:
falta o código que diz a deficiência que a pessoa tem. Desse total,
75% foi decidido por liminar judicial. Faremos um esforço para
periciar e garantir que apenas quem tem direito continue
recebendo”.
ABONO
SALARIAL – (Fernando Haddad) Nós
estamos fixando o direito ao abono àqueles que ganham até 2.640
reais por mês, o que hoje corresponde a dois salários mínimos. Mas
estamos introduzindo uma cláusula na Constituição de que esse
valor vai ser corrigido pela inflação. Como o salário mínimo vai
aumentar acima da inflação, esse valor vai gradualmente convergindo
para um salário mínimo e meio ao longo dos anos. E quando isso
acontecer, quando chegar a um salário mínimo e meio, volta a
prevalecer a regra atual. Então, é como se nós estivéssemos
gradualmente baixando de dois para 1,5, mas sem prejudicar as pessoas
que hoje ganham 2.640 reais. É uma regra de transição de um
benefício que num certo sentido perdeu sua razão de ser à luz dos
vários programas que foram criados superiores a ele do ponto de
vista social e que já estavam no radar de vários governos em
ajustar em relação aos programas existentes hoje.
PROGRAMAS
SOCIAIS – (Fernando Haddad) Tem
uma série de obrigatoriedades dos programas sociais, o que inclui o
Bolsa Família. Em julho, tomamos uma série de providências para
conter um aumento de R$ 25 bilhões na despesa do ano que vem, R$
24,9 bilhões, para ser bem exato. Todo mundo vai ter que passar por
biometria, todos os programas e os prazos de recadastramento vão ser
encurtados por lei para que seja corriqueira esse acompanhamento à
luz do que foi encontrado de julho para cá em relação à não
aderência da pessoa cadastrada com o perfil previsto no programa
social específico. Tem muita incompatibilidade que precisa ser
corrigida.
FUNDEB
– (Fernando Haddad) O
Fundeb* deve atingir, pela Emenda Constitucional aprovada já há
algum tempo, uma transição que chega ao pico em 2026. Em 2026, o
valor aportado pela União, atinge 23% da soma de todos os Estados e
do Distrito Federal aportados para os seus fundos específicos.
Então, sai de 10% para 23%. Lembrando que quem está pagando essa
conta é o atual governo. A conta foi deixada a ser paga sem fonte de
financiamento, porque não havia previsão de fonte de financiamento.
E quem está arrumando a fonte de financiamento para honrar o
compromisso com a educação é o governo do presidente Lula. O que
nós estamos fazendo em relação ao Fundeb? Nós queremos que uma
parte desse recurso favoreça o estudante. Nós estamos reservando
20% do aporte da União, ou seja, do dinheiro federal para garantir a
expansão da escola em tempo integral. Então, a escola em tempo
integral, ela vai entrar no Fundeb com a utilização de recursos
federais. *O
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educaço (Fundeb) é um fundo do
Governo Federal que distribui recursos para a educação básica e
para a valorização dos profissionais da educação.
PÉ
DE MEIA E VALE-GÁS – (Fernando Haddad) Uma
segunda questão importante da educação é que o Pé de Meia, a
partir de 2026, integra o orçamento da educação. O Pé de Meia e o
Vale-Gás vão ser incorporados ou reincorporados ao orçamento
dentro do arcabouço fiscal.
ALDIR
BLANC – (Fernando Haddad) Tem
prefeito usando o dinheiro da cultura para fazer superávit, para
atender a lei de responsabilidade fiscal. Faz o resultado primário
que a lei exige e não investe em cultura. O que nós tomamos de
decisão? Não vamos repassar pra quem não está executando. Então,
isso representa uma economia para a União, mas um disciplinamento
também do ente federado que não está comprometido com a cultura.
EQUILÍBRIO
FISCAL – (Rui Costa) O
que está sendo colocado aqui é um absoluto compromisso do governo
do presidente Lula com o equilíbrio fiscal, a responsabilidade
fiscal e o arcabouço fiscal. Esse conjunto de medidas foi construído
conjuntamente, por todos os ministros e muitos foram ouvidos.. Aqui
todos nós temos responsabilidade com esse país. O que está se
fazendo hoje é garantindo que esse desequilíbrio de longo prazo não
ocorrerá. É reafirmar, através de medidas firmes, como o
realinhamento do reajuste do salário mínimo e, com ele, todas as
despesas a ele indexadas, trazendo esse crescimento para o
crescimento do arcabouço fiscal. Quem apostar contra o Brasil vai
perder. Porque esse país cresce de forma consistente, está atraindo
investimentos internacionais de forma consistente. Todos os ajustes
serão feitos, se necessário for, para continuar garantindo, no
curto prazo, no médio prazo e no longo prazo, o alinhamento das
despesas ao conjunto do arcabouço fiscal, reafirmando a
responsabilidade fiscal.
CONSENSO
– (Simone Tebet) Esse
foi o ajuste fiscal do consenso. Nós debatemos por diversas vezes.
Eu estou satisfeita porque é o ajuste fiscal possível no aspecto
técnico, no aspecto do Ministério do Orçamento e Planejamento e no
aspecto político, porque há que se pensar que ele tem que passar
pelo Congresso Nacional. O Brasil precisa caber dentro do orçamento
público, como a renda familiar, os orçamentos das famílias
brasileiras precisam caber dentro dos seus ajustes. Nós sabemos o
impacto de gastarmos mais do que arrecadamos.
Fonte: Secretaria
de Comunicação Social da Presidência da República